Arte têxtil de Liciê Hunsche é retratada em Casa Vogue de junho

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Da criação das ovelhas à execução da peça no tear e até a elaboração do fio de lã, assim era o trabalho da artista gaúcha, que se destacou pela originalidade
Letícia Remião
Paixão, dedicação e ousadia. Essa tríade de elementos norteou toda a atuação da gaúcha Liciê Hunsche (1924-2017), reconhecida entre os especialistas como um nome relevante no cenário da tapeçaria. Destaque em ‘Design’, na edição de junho de Casa Vogue, a artista têxtil, nascida em Porto Alegre, buscou no ofício um refúgio, em 1971, quando perdeu um filho de 18 anos em acidente de carro.

A responsável por sua iniciação foi a artista conterrânea Zoravia Bettiol, precursora, no Rio Grande do Sul, da Nova Tapeçaria. “Zoravia acabava de retornar da Polônia, país onde, nessa época, surgiram grandes artistas têxteis. De volta, começou a dar cursos e Liciê foi sua aluna”, revela a pesquisadora têxtil Carolina Grippa, curadora da exposição Liciê Hunsche – Fios de Memória, em cartaz no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), em Porto Alegre, até 30 de julho.
Letícia Remião
Se para Liciê o tear começou como terapia, logo se transformaria em paixão, motivando um envolvimento profundo com a atividade, em diferentes aspectos. Inclusive, a artista passou a abraçar o ciclo completo de sua criação e fazer uma imersão na matéria-prima: a busca pela lã perfeita fez com que ela importasse ovelhas da raça caracul, originárias da Ásia, cuja lã é naturalmente colorida em tonalidades que vão do branco-rosado ao preto-azulado, além de bege e marrom, entre outros matizes.

Nesse percurso impressionante, a artista criou centenas de ovelhas em suas fazendas nas cidades gaúchas de Bagé e Canela e, orientada pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), obtinha as cores desejadas por meio de cuidadosos acasalamentos. Ela também se dedicou ao tingimento natural da lã, com pigmentos extraídos de plantas nativas do Rio Grande do Sul. E buscava inspiração nas cores exuberantes das orquídeas, algo que a encantava: desde os 15 anos, mantinha um orquidário, encontrando nas combinações cromáticas dessas flores a sofisticação que tanto apreciava, como relata a designer Heloisa Crocco, sua amiga: “Liciê tinha um refinamento no colorir, uma coisa ímpar, muito linda. Ela obtinha tons espetaculares [com o tingimento natural]”.
Letícia Remião
A qualidade fez com que as obras de Liciê fossem selecionadas para vários eventos no Brasil e no exterior, entre eles, a 1ª Mostra Brasileira de Tapeçaria no MAB-FAAP, as três Trienais de Tapeçaria no MAM-SP (tendo recebido o Prêmio Destaque na segunda edição) e o 3º Salão de Artes Visuais de Porto Alegre, em 1975, no qual ganhou o Prêmio Aquisição; além de exposições na Argentina, Alemanha, Polônia e nos Estados Unidos. Também vale menção à mostra realizada no MARGS em 1981 com criações de Liciê e de Jacques Douchez, talvez o nome de maior destaque no cenário nacional da época.

A matéria na íntegra pode ser conferida na edição de junho de Casa Vogue, disponível nas bancas de todo o país.

Letícia Remião



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